Primeiros dias em Jacarta

Queridos pais,

Estamos quase a celebrar a nossa primeira semana em Jacarta. Depois de uns primeiros dias em estado zombie por causa do famoso jet lag, começámos a procurar casa, até porque a vida confortável e luxuosa da residência temporária não dura para sempre. A vossa neta acha uma seca monumental esta coisa de visitar casas. "Mamã, outra vez ver casas? ", "Outra casa?", "Já acabamos? Quando vamos embora?" Estas e outras perguntas a TODA A HORA! Já o vosso neto anda feliz da vida. É vê-lo de telemóvel na mão a filmar e fotografar as casas, a conversar com as agentes e a fazer perguntas pertinentes. Está um homenzinho cada vez mais responsável.

O trânsito caótico de Jacarta confirma-se. Digamos que é uma espécie de desorganização organizada. Todos fazem a mesma coisa, todos tentam aproveitar a "nesga" de espaço que encontram na estrada para se conseguirem safar mais depressa. Dois dias seguidos a visitar casas nas áreas de Permata Hijau, Cipete, Cilandak e Kemang e já deu para perceber que fora da chamada "Jacarta central" há sobretudo ruas estreitas onde circular em dois sentidos parece tarefa impossível. Talvez para muitos possa parecer impossível mas não para este povo. É surreal ver carros a passar tão perto sem se tocarem e depois ainda passar uma ou duas motos onde parecia que mais nada cabia. Uma coisa eu te garanto, paizinho: as tuas caminhadas por cá vão ser uma verdadeira animação. As ruas parecem-me labirínticas, muito parecidas umas com as outras. Espero que tenhas melhor sentido de orientação do que eu! Mas, repara, o teu genro já se aventurou com o carro várias vezes. Diz ele que é homem para conduzir em qualquer canto do mundo! 😉Já eu ainda não me sinto muito confiante. Andamos à procura de um motorista que possa levar e ir buscar os miúdos à escola e que me leve onde precisar de ir durante o dia. Aqui é essencial ter alguém que conheça bem as áreas, os atalhos e as alternativas com menos trânsito.

Mãezinha, sabes que aqui todos me tratam por "Ibu"? Pode significar "mãe" ou "senhora". Ao teu genro tratam por "Pak" - o equivalente masculino. Por isso quando cá vieres vais passar a ser a "Ibu Fátima"! O mais impressionante é que damos por nós a ter o mesmo tratamento para com os indonésios que vamos conhecendo. Rapidamente nos vamos adaptando aos usos e costumes deste país e ainda só agora chegamos.

É muito interessante observar as diferenças culturais de país para país. Na China eram cordiais e respeitadores mas cá há uma cortesia diferente, acompanhada quase sempre de um inclinar de cabeça em sinal de respeito e um sorriso. Temos sido muito bem tratados e...ah! esperem...também falam em inglês. Bem, não são todos, claro, mas são muitos mais do que na China onde a comunicação era sempre tão custosa. Onde quer que vamos é fácil encontrar quem fale, até mesmo no talho de um supermercado onde fui ontem para comprar frango para uma canjinha. Após 3 anos em Pequim, é verdadeiramente agradável poder entender e ser entendida.

A própria língua indonésia é obviamente mais fácil de aprender do que o mandarim. Até tem palavras de influência portuguesa como "boneka" (boneca), "bola" (bola), "keju" (queijo), "sekolah" (escola), "meja" (mesa), "sepatu"(sapato) ou "mentega"(manteiga). 🙂

No outro dia enquanto andávamos no supermercado vimos massa Milaneza, Compal e Azeite Gallo. Não andei com muita atenção e o mercado não era muito grande mas assim que puder mostro-vos fotos dos produtos portugueses que for encontrando.

No Dia dos Avós quis que vocês fossem os primeiros destinatários destas Ja'cartas de amor. Escritas por mim mas sentidas pelos quatro. A distância custa muito, a vocês e a nós, mas acreditem que estamos bem, estamos a aproveitar cada momento e cada experiência para aprender coisas novas e sentir o ritmo deste país. Os miúdos andam entusiasmados e até a Micas já está em casa para nos fazer companhia. Em breve teremos mais novidades: da procura de casa, do motorista e da escola dos miúdos. Um beijinho grande cheio de saudades.