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Viajar com eles...sim ou não?

Muito se fala sobre viajar ou não viajar com crianças, levá-los ou não em aventuras desde tenra idade, partilhar com eles lugares longínquos, metê-los em aviões durante doze horas e submetê-los a dias de luta contra o famoso jet lag. Uma busca rápida na Internet dá-nos acesso a dezenas de sites e blogs com todos os prós e contras, todas as listas de must-do, must-try, top ten activities e por aí fora. Não faltam sugestões e recomendações, todas elas extremamente válidas e úteis. Antes do boom dos blogs o acesso a estas informações não era tão fácil mas, hoje em dia, parece que todo o mundo adora viajar com os miúdos atrás.


Em criança não tive muitas oportunidades de viajar fora de Portugal mas lembro-me de, com tenra idade, ser levada em viagens de carro à moda antiga, com os meus pais e os meus avós, sem segurança rodoviária, ao som de Trio Odemira ou dos Genesis…sim, a minha vida sempre se pautou pela heterogeneidade musical. Adormecia no colo do meu avô a ouvir o Rancho Folclórico na rádio, brincava ao som do Fado, fui fã incondicional dos New Kids on The Block, depois dos INXS, mais tarde dos Guns n' Roses, dos Pearl Jam e, para sempre, com U2 no sangue. Apesar de todas as restrições económicas em que vivemos durante a minha infância/adolescência, uma ou duas vezes por ano partíamos à descoberta do nosso Portugal. Conheci o nosso país de lés a lés (com exceção das ilhas) muito antes de ter posto os pés em Londres pela primeira vez aos 15 anos, naquela viagem mítica do 10º ano. Conheci parte de Espanha, sobretudo a Galiza, pela mão do meu pai e da minha mãe que nunca me deixavam para trás ao cuidado de outros para poderem viajar “à vontade”.


Quando tive o primeiro filho levei-o comigo para Freetown, a capital da Serra Leoa, com apenas 6 meses. Tenho noção dos riscos que ele correu nessa altura, lembro-me bem do receio que tive, das noites mal dormidas a ponderar se era a decisão acertada, chorei muito, preocupei-me muito e no final, quando regressámos a Portugal ao fim de 3 meses, também me lembro do alívio que foi sair daquele lugar e regressar à “civilização”. Em 3 meses o André foi “conhecer” a vida selvagem do Quénia e as praias de Zanzibar, comeu o pó das ruas de Freetown e brincou com meninos libaneses, adormeceu nos braços do Kamara (o nosso guarda) e nas costas da Musu (a nossa empregada) sem preocupações de cor, credo ou estatuto social. Foram dias felizes mas sofridos, sempre com receio de doenças e sabendo que pouca ou nenhuma ajuda teríamos se algo mais grave acontecesse.


André (7 meses) com o Kamara Em Freetown

André (8 meses) com a Musu (Freetown)

O medo não nos leva a lado nenhum nem nos abre portas de aviões e de aventuras por isso com 3 anos o André foi conhecer Pequim, Xangai, Hong Kong, Macau, Bali e Timor-Leste. Vivemos momentos intensos e felizes durante um ano. Enquanto eu e o pai trabalhávamos, o André frequentava a escola internacional australiana de manhã, de tarde brincava com os vizinhos timorenses, apanhava papaias e mangas do quintal e às vezes ia às compras comigo e a querida Ricardina - a sua ama. Em 10 meses fizemos muitas roadtrips com o André pelas estradas timorenses ao som das músicas do Panda. De Tutuala ao Oecusse, o André admirava as pescarias do pai, fazia descobertas com a mãe e ganhou uns tios emprestados que dele ajudaram a cuidar com todo o carinho.

Oecusse 2009

Depois veio a Catarina e a história repetiu-se. Aos 2 anos foi viver para Pequim, aos 3 falava mandarim melhor do que eu, aos 5 já tinha visitado o Hawaii, o Japão, a Coreia do Sul, a Tailândia, a Malásia, as Filipinas e o Vietname. Agora, ele com 13 e ela com 6, têm amizades internacionais, são falantes fluentes de inglês e as viagens tornaram-se mais simples e cómodas. As viagens continuam (como a última que fizemos em Sydney e na Nova Zelândia) e há mais planeadas para o futuro.


Hawaii 2016

Sim, era muito mais fácil viajar sem eles. Para começar, era mais barato. Há toda uma logística inevitavelmente associada à conta bancária que é necessário ter em conta. No início eram as fraldas, o leite em pó, os iogurtes e as papas. Hoje em dia preocupam-nos mais as atividades que podem ir fazendo para “esquecer” as longas horas de espera nos aeroportos ou os lugares que achamos que mais lhes podem interessar. Em vez de visitar dois museus no mesmo dia, por que não escolher apenas um deles e depois ir até à praia ou ao parque para que possam brincar? Há cedências que são feitas mas que no fim compensam muito e nos fazem sentir muito bem porque sabemos que este é o maior legado que lhes podemos deixar para o futuro: o “bichinho” da aventura e da descoberta.

Se aprendem alguma coisa aos 6 meses? Talvez não. Se aprendem alguma coisa aos 2 anos? Quem sabe…Se aprendem alguma coisa aos 4 anos? Claro que sim! Todas as vivências ficam lá gravadinhas nas suas memórias espantosas e há sempre as fotografias e os vídeos que nos ajudam a explicar como tudo aconteceu.


Os manos em Seul (2017)

No Fox Glacier (2019)

Perguntam vocês: Então por que razão foste 5 dias para Ubud (Bali) sem os teus filhos?(Para mais informações sobre esta última viagem, aguardem mais uns dias por novidades aqui no blog) Porque felizmente consigo ter um bom suporte familiar aqui, apesar de os avós estarem tão longe. Porque sei que ficaram bem entregues aos cuidados do pai, da irmã mais velha e da ama que tão bem os trata. Porque estas viagens “só de mulheres” também são importantes. Porque às vezes precisamos de nos pôr em primeiro lugar, relaxar e curtir a vida sem pensar em horários, escola, lanches, jantares, hora da leitura, atividades extracurriculares, trabalhos de casa, compras e afins. Porque, embora viajar com eles continue a ser a minha prioridade e o que me faz mais feliz, também gosto de fazer viagens só com o maridão ou então com amigas ou com a prima que me desencaminha (e bem) para estas aventuras. Devo, no entanto, confessar que lhes sinto a falta a cada segundo que passa e que parto sempre para estas viagens com uma pontada de angústia por saber que não vou estar com eles, não vou poder aconchegá-los à noite ou então quando vejo algo muito interessante e penso logo que eles iriam adorar ver também.


Como é com vocês, mulheres? Conseguem “escapar” aos vossos filhotes ou levam-nos sempre convosco? Gostam de viajar com eles ou isso ainda é muito complicado para vocês?


As próximas viagens já estão marcadas para breve e, desta vez, vamos todos juntos.

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